Anexa a um muro de pedra que delimita uma cota e suporta outra, ladeada por um extenso bananal. Uma tipologia rural de um outro tempo, um fragmento de memória subjugado por uma urbanidade descontrolada que aumenta exponencialmente dia após dia.
De tipologia tradicional da primeira metade do século XX parece ser caso isolado. Ao seu lado a malha urbana cresce sem regra, ameaçando a sua permanência e inserção equilibrada no delicado tecido rural que a gerou. É preciso retroceder, reestruturar as regras que tão corretamente fizeram despoletar esta casa, quase como se de uma extrusão do terreno natural se tratasse.
Surge a ideia.
Delimita-se um novo limite. Para o seu interior surgem os espaços.
Escavando a rocha quase vernacularmente, descobre-se as áreas íntimas, compostas por cinco espaços habitados – duas instalações sanitárias, dois quartos e um espaço misto. Abre-se a laje pontualmente de modo a propagar a luz da Ilha para o interior. Cria-se uma ligação escavada entre o novo o existente e uma pequena instalação sanitária social. Em frente da casa surge um pátio que a prolonga. Lateralmente surge outro que a afasta.
No grande pátio sobrevive uma árvore de tempos passados. Na sua sombra irão ser forjadas novas memórias.
Surge uma escada que agarra o muro e se dilui no pátio, criando um novo eixo de acesso à propriedade e incentivando o seu redesenho.
A casa é redescoberta, estudada e recriada. Uma casca para uma nova vivência interior adaptada aos seus ocupantes e a uma realidade contemporânea. Divide-se a sala por dois pisos – um espaço de refeições com cozinha em baixo e uma sala de estar em cima, convertível num quarto se necessário. É desenhada uma escada armário que liga os dois pisos. Repensa-se a luz e a relação com o exterior.
Surge o projeto.
c. catarina ferreira | funchal, madeira, portugal | 2020